Os
pais estão com olheiras e com vontade de se divorciar. A
babá está quase pedindo demissão. E o menino?
Para desgosto de toda a família, continua animado e dormindo
pouquíssimo. É comum que nos primeiros anos de vida
as crianças tenham dificuldade para iniciar o sono sozinhas,
despertem muitas vezes à noite, acordem com qualquer ruído
e durmam menos horas que o esperado. Tão comum que a maioria
dos pais acha que não é preciso tomar providências,
pois acreditam que isso passa com a idade. Nem sempre é assim.
Estudos mostram que a insônia infantil atinge 35% das crianças
com menos de 5 anos e, se não é cuidada, pode tornar-se
um problema para toda a vida. A partir do terceiro mês, o
bebê começa a dormir mais à noite do que durante
o dia. Uma criança entre 1 e 2 anos dorme normalmente em
torno de treze horas por dia. Aos 4 e 5 anos, o período de
sono é de onze horas. Quantidades menores de horas dormidas
devem ser encaradas como sinal de alerta.
Há
outros conselhos, todos na contramão do comportamento habitual
dos pais. Não se deve cantar para a criança dormir,
embalá-la no berço ou no colo, levá-la a passear
de carrinho, dar uma volta de carro. Um bom modo de reeducação
para o sono é criar um ritual em torno do ato de ir para
a cama. Contar uma história pode levar a criança a
associar a hora de dormir a um momento agradável. Em caso
de choro, vale entrar no quarto para inspirar confiança,
mas nada de deitar na mesma cama. O importante é que o distúrbio
do sono seja resolvido logo. Primeiro, porque uma criança
que sofre de insônia se torna irritada, insegura, hiperativa,
com baixo rendimento de aprendizado e problemas de crescimento.
Segundo, porque a vida conjugal fica prejudicada pelo cansaço
e pelo nervosismo. "Para o casal, acaba sendo um método anticoncepcional",
diz Flávio Alóe, neurologista do Centro do Sono do
Hospital das Clínicas, em São Paulo. Foi o que aconteceu
com Carmem e Heller Trench. As duas filhas tiveram problemas de
insônia desde pequenas e adoravam pular para a cama dos pais.
"Entrei em stress profundo e, depois de tanto tempo, acordava antes
mesmo de elas despertarem", conta Carmem. Andréa, hoje com
8 anos, não dormiu bem até os 6, e Marcela, com 5,
ainda acorda várias vezes durante a noite. A mãe torce
os dedos para que melhore com a idade.
O distúrbio do sono infantil pode ter causas físicas,
como dor ou dificuldades respiratórias. Ou psicológicas,
incluindo aí o sonambulismo e pesadelos. O mais freqüente,
contudo, é que a culpa seja dos pais. "Mais de 95% das crianças
que recebemos não dormem devido ao condicionamento errado",
diz Márcia Pradella-Hallinan, do Instituto do Sono da Escola
Paulista de Medicina. Há crianças cujo relógio
biológico é um pouco preguiçoso. Elas realmente
precisam que alguém as ensine a dormir sozinhas. Só
que se isso é feito de modo errado acaba perpetuando as razões
que as levam a acordar no meio da noite. "Os pais pegam no colo,
acariciam, amamentam e assim condicionam o filho a dormir somente
nessas condições", diz o espanhol Eduard Estivill,
diretor da Unidade de Alterações do Sono do Institut
Dexeus de Barcelona e autor do livro Nana, Nenê, lançado
recentemente no Brasil. "Quando elas faltam, a criança não
consegue cair no sono." Estivill aconselha aos pais angustiados
que fiquem com a criança até que ela esteja sonolenta,
mas saiam do quarto antes que pegue no sono.
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